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Dor, rigidez e má postura: o preço físico do mundo conectado

  • Foto do escritor: Karita Emanuelle Ribeiro Sena
    Karita Emanuelle Ribeiro Sena
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

Uso prolongado de celulares e computadores tem provocado aumento de dores musculares e posturais entre jovens e idosos


Por Maria Eduarda Santos


Má postura ao usar o computador pode causar dores na coluna. Foto: Maria Eduarda Santos
Má postura ao usar o computador pode causar dores na coluna. Foto: Maria Eduarda Santos

Cabeça inclinada, ombros curvados e longas horas sentado sem pausas formam a “tríade” do desconforto moderno, que pode evoluir para dores crônicas, rigidez muscular e até alterações posturais permanentes. O uso constante de aparelhos eletrônicos transformou o modo como vivemos, estudamos e trabalhamos, mas também trouxe um novo desafio para a saúde: as dores causadas pela má postura. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27 milhões de adultos brasileiros relataram sofrer com dores crônicas na coluna, o equivalente a 18,5% da população adulta. 


O professor de Fisioterapia Gustavo Christofoletti, 46 anos, explica que há uma temática chamada de “dupla tarefa”, que ocorre quando realizamos mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Segundo ele, uma das tarefas sofre o prejuízo do motor e isso se agrava quando estamos falando no telefone e caminhando. “Essa divisão de atenção impacta o equilíbrio e aumenta o risco de quedas, principalmente entre os idosos”, comenta.


O professor Christofoletti explica que a prevenção é fundamental para evitar problemas posturais. Foto: Maria Eduarda Santos.
O professor Christofoletti explica que a prevenção é fundamental para evitar problemas posturais. Foto: Maria Eduarda Santos.

A aluna de Engenharia de Computação, Izabela Issahak, de 20 anos, compartilha sua rotina de dores devido à má postura diante das telas. “Normalmente eu me levanto e faço um alongamento. Se a dor ficar muito forte, tomo um banho quente”. A fala da estudante ilustra como o uso prolongado de telas se tornou parte do dia a dia, mesmo quando medidas simples de prevenção são adotadas.


O professor Christofoletti coordena um projeto financiado pela Fundect e pelo CNPq junto aos alunos Heloísa Helena e Sidney Afonso, em que compara o impacto da “dupla tarefa” entre jovens e idosos. O experimento analisa o efeito de caminhar enquanto faz outra atividade cognitiva. “O que estamos vendo é que o celular é um recurso muito importante no dia a dia, mas deve ser utilizado com cuidado, sobretudo quando associado a uma segunda tarefa motora”, afirma.


O aluno Sydney Afonso faz parte de pesquisa científica sobre o impacto da dupla tarefa entre jovens. Foto: Maria Eduarda Santos.
O aluno Sydney Afonso faz parte de pesquisa científica sobre o impacto da dupla tarefa entre jovens. Foto: Maria Eduarda Santos.

Segundo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, inclinar a cabeça mais de 60° ao olhar o celular pode fazer a coluna cervical suportar até 27 quilos de pressão. “Quando estamos caminhando e digitando, a cabeça fica inclinada, as costas mais recurvadas e o risco maior com passos curtos, porque a atenção é dividida”, o professor completa.


O Papel da Fisioterapia

“O que a gente tem que entender é que medidas preventivas são importantes”, ressalta Christofoletti. O pesquisador explica que a fisioterapia atua tanto no tratamento quanto na prevenção. “Não basta só tratar essa condição. Enquanto a pessoa não muda seus vícios posturais, isso tende a manter a dor e as alterações ao longo do tempo”.


Guilherme Fernandes Nakazato, de 21 anos, é estudante de Ciências da Computação e passa boa parte do seu dia no computador, seja jogando ou estudando. “Eu não me importava muito em relação à minha postura, mas chegou a um ponto que a dor ficou tão forte que começou a formigar”. Ele também comenta que usava o computador na cama, o que afetou sua cervical.


Christofoletti acrescenta que a fisioterapia trabalha o reequilíbrio muscular. “Músculos encurtados e fortes precisam ser alongados, e músculos alongados e fracos devem ser fortalecidos”. Além disso, o professor enfatiza que pequenas mudanças de hábito podem reduzir drasticamente as dores: levantar o celular à altura dos olhos, fazer pausas a cada hora de uso contínuo e praticar alongamentos simples para pescoço, ombros e coluna.


O corpo humano não foi feito para passar horas curvado sobre uma tela. A soma da má postura, uso excessivo de eletrônicos e atenção dividida gera consequências reais, da dor no pescoço à sobrecarga da saúde pública. Num país em que 60% dos brasileiros relatam dores causadas pela má postura e o afastamento por problemas na coluna cresceram quase 70%, o alerta é claro: o modo como usamos nossos dispositivos hoje pode definir a saúde ou a dor de amanhã.


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