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Amnésia digital: o uso excessivo da tecnologia prejudica a capacidade cognitiva do cérebro

  • Foto do escritor: Karita Emanuelle Ribeiro Sena
    Karita Emanuelle Ribeiro Sena
  • há 17 minutos
  • 5 min de leitura

Estudantes que se preparam para vestibular e Enem estão entre que os lidam com o impacto do uso excessivo de dispositivos digitais


Por Brunna Brondani e Rebeca Ferro


O uso excessivo de dispositivos tecnológicos afeta concentração e capacidade de memorização dos usuários (Foto: Rebeca Ferro)
O uso excessivo de dispositivos tecnológicos afeta concentração e capacidade de memorização dos usuários (Foto: Rebeca Ferro)

Com a evolução cada vez mais rápida das tecnologias, o uso de aparelhos eletrônicos e de telas digitais por parte de crianças e adolescentes tornou-se uma ação comum e rotineira. De acordo com o Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida, publicado em agosto de 2025 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o acesso às telas supera os 90% entre crianças entre 0 a 6 anos.


Segundo o levantamento feito com mais de 2 mil pessoas[1] , 78% das crianças entre 0 e 3 anos utilizam de 2 a 3 horas de tela diariamente. O mesmo consumo é apontado para 94% das crianças de 4 a 6 anos. O tempo verificado é mais do que o dobro do recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que estipulou uma hora de tela como o limite máximo indicado para crianças na primeira infância, até os seis anos de idade.

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O uso excessivo de telas não fica restrito a crianças. Os dispositivos digitais passaram a ser usados para desempenhar funções básicas do dia a dia, seja no trabalho, na escola ou até mesmo como atividade de lazer. Mas a utilização sem limites pode se tornar um grande problema para o desenvolvimento cognitivo do cérebro, ou mesmo para o desempenho de habilidades como a memória.


De acordo com a neuropsicopedagoga e especialista em Análise do Comportamento Aplicada, Verônica Louise Oros, o tempo de tela consumido modifica a forma como o cérebro processa as informações. “Quando a tecnologia passa a funcionar como uma ‘memória externa’ ocorre uma redução do esforço cognitivo para reter conteúdos, o que impacta diretamente áreas ligadas à atenção, concentração e memória do trabalho”.


O que a especialista descreve é a ação atrelada ao termo “amnésia digital”, cunhado pela Kasper Lab, uma empresa voltada para a segurança cibernética, em 2015. O termo surgiu após a empresa realizar uma entrevista com mais de 6 mil usuários da plataforma e identificar entre os entrevistados a dificuldade de se lembrar de dados básicos como o número de telefone de familiares.


Segundo um estudo publicado na revista Dergi Park Akademik, denominado “Digital Amnesia: The Erosion of Memory”, a falta de memória pode ser gerada pelo uso excessivo de dispositivos digitais, tanto para acesso e/ou armazenamento de informações. O uso frequente pode levar ao enfraquecimento da capacidade de pensamento crítico e aprofundamento de informações, além de afetar o processo de aprendizagem e memória, principalmente em estudantes e jovens.


O neurocientista Jefferson Luís Morel explica que o cérebro se adapta a essa nova condição, o que o torna mais preguiçoso. Além de deixar de trabalhar no armazenamento de informações e ficar dependente de estímulos constantes. “Nós percebemos que o cérebro fica em um estado de hiperatividade elétrica. Ele fica bastante alerta, porém com menor foco e menor concentração”.


Quando é preciso se abster

O estudante de Ciências da Computação, André Martins, 21, estava focado em se preparar para o vestibular. Uma característica de provas como essa é a falta de acesso a dispositivos digitais por longas horas. André afirma que sente cada vez mais dificuldade em se distanciar das telas.  “Antigamente eu tinha mais facilidade em fazer esses vestibulares de seis, oito horas sem acesso a qualquer tipo de tela, mas com o passar do tempo a nossa tendência é ficar cada vez mais grudado e isso não parece que vai mudar”.


Para a estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Maria Laura Carriel, 18, o uso das telas não é muito diferente. Ela explica que sente maior dificuldade de memorização do conteúdo estudado principalmente por conta do uso das redes sociais, que constantemente disputam sua atenção e afetam sua concentração. “Eu sinto que elas impactam diretamente em como eu consigo absorver o conteúdo que estudo”.


A prática da leitura é uma das alternativas para momentos de lazer fora das redes sociais. (Foto: Rebeca Ferro)
A prática da leitura é uma das alternativas para momentos de lazer fora das redes sociais. (Foto: Rebeca Ferro)

 A neuropedagoga explica que o consumo de conteúdos rápidos, muito presente nas redes sociais, afeta o processamento das informações e o tempo de atenção do indivíduo, e que isso impacta diretamente no processo de aprendizagem e na construção ativa de conhecimento. “O cérebro passa a funcionar de modo mais superficial, priorizando a velocidade em vez da compreensão. Esse padrão dificulta a retenção de conhecimento a longo prazo e o pensamento crítico, pois o indivíduo se acostuma a receber tudo pronto, sem a necessidade de elaborar, refletir ou analisar”.


Para Kariny Silva, também estudante do terceiro ano, 17, a tecnologia representa  uma forte aliada na preparação para os vestibulares, porém ela também reconhece que é importante manter algumas etapas do seu preparo de forma analógica. A estudante afirma que usa aparelhos eletrônicos para estudar os conteúdos aplicados em provas de vestibular e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porém na hora de fazer simulados prefere ter o caderno de questões impresso, para evitar possíveis distrações.


Apesar de todos os desafios que o uso excessivo e tecnologia gera, a neuropedagoga aponta que o avanço tecnológico é inevitável e traz também inúmeros benefícios quando usado de forma intencional. “O desafio não está em afastar as telas, mas em ensinar o uso consciente, garantindo que a tecnologia sirva como ferramenta de desenvolvimento - e não como substituta das experiências humanas, da imaginação e do vínculo social”.

 

O cérebro também precisa ser treinado 

A dependência do estímulo digital pode acarretar diversas consequências como ansiedade, irritação e dificuldade de concentração. O neurocientista Jefferson Morel explica que isso acontece porque o cérebro, a longo prazo, perde “parte da flexibilidade e da capacidade de lidar com o tédio”. A neuropedagoga Verônica Oros lembra que além dos prejuízos na atenção, a memória é afetada com a redução da capacidade, surgem mais dificuldades para regulação emocional, além do empobrecimento nas interações presenciais e nas habilidades socioemocionais.



No áudio, Jefferson Luís Morel explica formas de realizar a higiene digital

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Apesar dos efeitos colaterais, há formas de reduzir os impactos do uso excessivo de telas por meio de práticas saudáveis. Segundo a neuropedagoga, a higiene digital é um dos passos para melhorar a relação de consumo digital. O processo consiste em criar limites de horário de uso e momentos de desconexão, como durante as refeições, sessão de estudos e antes de dormir.


“É importante estimular atividades que fortalecem a atenção, o controle emocional e a tolerância à frustração, habilidades que se enfraquecem com o uso passivo e contínuo de telas. Para adultos e adolescentes, atividades como leitura, jogos de raciocínio, prática de esportes, escrita reflexiva e o aprendizado de novas habilidades como um instrumento musical, um idioma ou algo manual, ajudam a desenvolver paciência, foco e persistência”.



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