Torneio e areia são a combinação perfeita
- CAMILA RODRIGUES CUNHA
- há 2 dias
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Beach tennis não foi sua primeira opção, mas agora ocupa lugar privilegiado na sua história, assim conta Johnny Lucas ao compartilhar sua trajetória no esporte
Amarílis Pires, Júlia Bordignon e Manuela Ourives

Johnny jogando um torneio em Campo Grande - MS. Reprodução: André Lorenzoni
Johnny Lucas Martins, de 31 anos, iniciou seu contato com os esportes no ensino médio. Ele jogava vôlei na escola e pensava em ser atleta profissional, mas, após uma lesão durante um jogo de vôlei, Johnny precisou dar uma pausa nas práticas esportivas e chegou a pensar que nunca mais voltaria. Até que em 2016, a convite de seu primo, Eric Welder, que atualmente também é professor de beach tennis, teve contato com a modalidade, apesar de no início não ter muito interesse em praticá-la. “Não queria de jeito nenhum. E existia um certo preconceito na época, né? Porque era um esporte muito novo e o pessoal falava que era frescobol”, relata. Seu primo já praticava tennis na cidade, principalmente no Parque Ayrton Senna, localizado no bairro Aero Rancho, já que na época não existiam clubes e espaços específicos para a prática do esporte, e Johnny o acompanhava.
Após seu terceiro ou quarto contato com o beach tennis, ele decidiu começar a jogar de fato e percebeu que tinha uma facilidade por conta do vôlei, que também foi notada por seu primo e outras pessoas que praticavam o esporte. Johnny conta que cerca de um mês e meio depois que praticou a modalidade pela primeira vez, Eric o convidou para jogar junto com ele em um torneio, substituindo a dupla do primo, que não poderia jogar. Johnny aceitou. Como ele nunca havia participado de uma competição, Eric orientou como ele deveria jogar para conseguirem ganhar. “Entramos, ganhamos o torneio com um mês e meio. Eu falei assim: ‘Poxa vida, ganhei o primeiro torneio que eu jogo. (...) acho que eu gosto disso aqui’". Essa primeira vitória fez com que Johnny tivesse certeza de que iria querer seguir como atleta no esporte.
Em 2019, começou sua carreira como professor por meio do Projeto Coruja, uma organização sem fins lucrativos criada em 2017, formada por voluntários e que oferece à comunidade diversas modalidades esportivas gratuitamente, como futebol, vôlei, beach tennis, entre outras. Johnny conheceu o professor Celso de Oliveira, idealizador do projeto, e começou a participar auxiliando os professores. Com o tempo, Celso o convidou para dar aulas, onde ele ficou por dois anos, e relata que no seu último ano também atuou na parte de gestão do projeto em si, substituindo Celso, que se ausentou durante 6 meses por conta do nascimento de sua filha.
A partir disso, Johnny obteve reconhecimento e recebeu uma proposta para ser professor em uma arena esportiva, onde trabalha atualmente. Ao ver o retorno financeiro que teria, aceitou o emprego, em setembro de 2021, e decidiu iniciar a faculdade de Educação Física, que irá concluir esse ano, visando uma profissionalização para ministrar suas aulas. Ele conta que a preparação para se tornar atleta profissional de beach tennis veio um ano depois, em 2022, quando conseguiu um patrocínio e contrato de raquete com a Acte Sports. Foi nesse período que ele começou a competir em torneios da Federação Internacional de Tênis (ITF).
Desvendando os campeonatos
“Na época, baixar top 1000 era incrível”, disse Johnny após relembrar do feito alcançado. Sua melhor marca da carreira foi 980° lugar do mundo pelo ranking da ITF, que engloba o tênis e o beach tennis. Hoje, ele não está no ritmo do circuito mundial, pois a sua parceria com o atleta Natã Silva, com quem jogava há dois anos, chegou ao fim, depois do seu parceiro se mudar para Dourados. "A distância infelizmente é igual a um relacionamento. Quando o Natã foi para lá, ficou ímpar o nível de atletas profissionais na cidade. E na época quem ficou sobrando fui eu. Eu fiquei meio que com o resto, todo mundo já tinha as duplas, esse momento foi muito duro para mim”, aponta.
Em Mato Grosso do Sul tiveram três ITF’s (competições internacionais organizadas pela Federação Internacional de Tênis), duas foram em Campo Grande no ano de 2025, um BT100 e um BT50 (o número indica a pontuação máxima do torneio, ou seja, caso o jogador vença, ele ganha 100 pontos no ranking ou 50, respectivamente), e o outro foi em Rio Brilhante no ano de 2023, também BT100. “O de Rio Brilhante foi a minha melhor campanha em ITF’s da vida”. Foi quando Johnny e seu parceiro Natã passaram do quali (fase preliminar de um torneio, onde os atletas disputam vagas para a chave principal). Porém, mesmo perdendo na primeira rodada principal para o cabeça dois do torneio, venceram o Consolation (competição secundária para atletas que foram eliminados na primeira rodada de um torneio principal). “Eu e Natã ganhamos cinco pontos, que equivalem à gente ter chegado nas quartas de um BT100”.
Johnny sempre teve uma “mente blindada” por estar em contato com diferentes esportes e participar de competições desde criança. Mesmo sendo muito competitivo e ficando frustrado com alguma derrota, ele usa esse sentimento para voltar mais motivado e com sede de vencer num próximo campeonato. Essa mentalidade, em união com seu talento e muitos treinos, lhe garantiu visibilidade como atleta profissional e também uma carreira sólida como professor.
A competição que Johnny chegou mais longe foi o BT50 em Campo Grande, ocorrida no ano de 2025, onde jogou com o seu primo Eric, que foi o responsável por mostrar o beach tennis ao atleta. Os dois pararam nas quartas de finais da competição, perdendo para os cabeças de chave (designação dada às duplas mais bem classificadas em um torneio, com base em seu ranking, para evitar que eles se enfrentem nas primeiras rodadas) número três do torneio. Jogando com a torcida a favor, ele conseguiu um resultado inédito para um atleta de Mato Grosso do Sul.

Johnny vibrando no BT50. Reprodução: André Lorenzoni
Johnny acredita que o esporte não perdeu a visibilidade, nem “saiu de moda”, foi apenas o cenário local e a questão financeira que mudaram. A oferta de serviço no beach tennis aumentou relativamente, além do esporte estar se tornando cada vez mais dependente de investimento. O dinheiro passou de uma vantagem e privilégio para um material fundamental na carreira de qualquer atleta, e para Johnny não foi diferente. O atleta pretende se afastar um pouco das competições, que geralmente acontecem em outras cidades e estados, e exigem grandes gastos nas viagens. Essa decisão também foi motivada pelo nascimento de seu primeiro filho, Abner Lucas, no segundo semestre desse ano.






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