Duas vezes campeão sul-mato-grossense, Adriano Ferreira vai para seu segundo ano de comissão técnica
- CAMILA RODRIGUES CUNHA
- há 3 dias
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Ex-jogador se aposentou em 2024 e se juntou-se a Glauber Caldas como auxiliar técnico no FC Pantanal
Thalison Augusto Zandona de Camargo & João Pedro Arakaki Fernandes

Pelo XV de Piracicaba, Adriano marcou 9 gols em 45 jogos. (Foto: Divulgação/XV de Piracicaba).
O XV de Piracicaba venceu a Copa Paulista de 2025 em outubro, quando venceu na final o Primavera, em dois jogos cheio de emoções que se encerraram em um placar de 2x1 no agregado para os piracicabanos. Mas, no campeonato paulista A2 o time deixou a desejar por mais um ano e se manteve na segunda divisão estadual, onde está desde 2016.
A equipe frequentou a elite paulista entre os anos de 2012 e 2016, e contou com uma estrela sul-mato-grossense em seu elenco nesses anos, o meio campista Adriano Ferreira. Hoje auxiliar técnico do FC Pantanal, de Campo Grande, ele teve passagens também por Mirassol, Fortaleza, São José, Bahia de Feira, Ceilândia, Votuporanguense, Rio Preto, Picos e Democrata, além de times campo-grandenses.
Carinhosamente conhecido como Dri em Mato Grosso do Sul, ele encerrou sua carreira como um dos grandes jogadores estaduais em 2024. No decorrer dela, o meio-campista conquistou títulos importantes, incluindo um Campeonato Estadual da Série B e dois da Série A. Aos 36 anos, o jogador trocou as chuteiras pela prancheta, assumindo o cargo de auxiliar técnico no FC Pantanal (antiga Portuguesa MS), ao lado de Glauber Caldas.
Em sua vitoriosa passagem como jogador de futebol, Dri jogava principalmente como segundo volante, mas sua versatilidade em campo possibilitou mudanças de posição quando necessárias para seu time, por exemplo, quando jogou de atacante pelo Cene. Seus principais gols saíram de chutes à longa distância, pela sua posição em campo e invadindo a área com sua velocidade. Ele ainda se destacava na liderança e visão tática por onde passou, características que o levaram ele para à comissão técnica ao final de sua carreira.
Porém, antes de levantar taças, Adriano quase desistiu. Após uma lesão no joelho jogando pelo Esporte Clube Campo Grande, ele se viu desempregado e desacreditado, treinando improvisadamente às margens de um rio na capital. A virada aconteceu de maneira dramática, em um jogo-treino contra o poderoso Cene, seu time, visivelmente mais fraco, pediu por uma grande margem. Foi ali, em meio a um placar de 12 a 0 que Adriano desistiu que não sairia de campo humilhado. “Eu falava, Deus, me ajuda que eu vou jogar só para honrar o seu nome. Eu queria pedir para sair, pô, envergonhado, os caras me zoavam e eu jogava, dava a vida e eu ganhava o melhor jogador em campo”.
A performance individual, mesmo que na derrota esmagadora, chamou a atenção de Mirandinha, técnico do time rival, que o levou para o clube. A passagem para o Cene em 2011 marcou o ápice de Dri no futebol sul-mato-grossense. “O time que eles montaram naquele ano, na minha opinião, foi um dos melhores times que eu já vi no estado”.


Time do Cene campeão em 2011, com 15 vitórias em 20 jogos. (Fonte: Aquidauana News).
O desempenho em Campo Grande abriu as portas para o futebol paulista. Em 2013, após uma negociação tensa que o fez pagar para rescindir seu contrato de dois anos com o Cene, Adriano chegou ao XV de Piracicaba. A identificação com o clube foi instantânea, e o jogador permaneceu por três anos no time, período que ele considera o mais marcante. Nesse tempo, criou uma forte identificação com a torcida, afirmando receber mensagens até hoje de torcedores pedindo por seu retorno. Foi também durante sua estadia no XV que protagonizou sua jogada mais memorável: um gol de meio campo durante a Copa Paulista.
Deixar o clube piracicabano para rodar por clubes como Fortaleza e Mirassol é, segundo o próprio, seu maior arrependimento profissional. “Eu me arrependo muito de ter saído do XV de Piracicaba... Eu falo para minha esposa que foi a pior escolha que eu fiz na minha carreira, na minha vida, foi ter saído. Se eu quisesse eu estava lá até hoje”, desabafa.
Após deixar o clube, Dri seguiu a vida de jogador profissional, mas com uma peculiaridade incomum no esporte de alto rendimento: a dupla jornada. Depois de perder a final do estadual pelo Operário, ele decidiu priorizar os estudos e a vida profissional fora do campo, começando a trabalhar na empresa Mega Stand.
O retorno aos gramados só aconteceu graças ao seu chefe, um entusiasta do futebol. Quando amigos o convidaram para jogar na segunda divisão pelo Portuguesa MS (atual FC Pantanal), ele hesitou: “Eu comecei a estudar, comecei a trabalhar na Mega Stand, a empresa que eu trabalho hoje, aí chegaram até mim e me convidaram para participar do projeto, para jogar. Falei ‘ah não, para mim já está bom’. Só que o meu chefe, cara, ele ama futebol. Ele disse: ‘Vai lá ajudar. Você vai, depois você volta. Você joga, acabou o campeonato, você volta para a empresa’”. Adriano aceitou, e foi um dos doze jogadores experientes que, junto da base, conquistaram o título da Série B.

Portuguesa campeã da série B de 2023. (Foto: Luciano Siqueira).
A vida fora das quatro linhas
Já em 2024, a chuteira foi pendurada para valer, mesmo com um pré-contrato para jogar o Estadual, o convite do técnico Glauber Caldas para ser auxiliar técnico no FC Pantanal foi irrecusável. A parceria havia sido construída no dia a dia, baseada em confiança e sinceridade.
O convite para a nova função veio com um apelo pessoal, Glauber precisava de alguém de absoluta confiança para iniciar um projeto de gestão no clube. Dri, que já fazia cursos de gestão, viu a oportunidade perfeita. “Ele falou: eu sei que vai ser difícil para você, mas vamos juntos, vamos começar juntos esse projeto. Aí eu sentei e conversei com a minha esposa e tipo parei do nada”.
Em 2025, com Adriano de auxiliar técnico, o time repetiu o feito do ano passado, quando chegou às semifinais do campeonato estadual, caindo de novo para o Operário, que se tornaria bicampeão seguido ao fim do torneio. Um dos momentos mais marcantes no ano foi a estreia, logo contra o Dourados AC, vice-campeão em 2024, em um empate no placar de 1x1 no Jacques da Luz, em Campo Grande.
O time da capital chegou a sair atrás do marcador, e parecia desorganizado. Fora da comissão técnica no dia, por problema de atraso em suas documentações, Adriano assistia tudo da torcida e chegou a orientar jogadores de lá mesmo. A equipe mudou sua forma de jogar, melhorou na partida e encontrou o caminho das redes para igualar o jogo.
Foi apenas no intervalo que o técnico principal Glauber Caldas descobriu o porquê do time ter agido tão diferente sem instrução sua, e parabenizou seu auxiliar pelas escolhas. “Os bancos de reserva nas Moreninhas eram no fundo, fica ruim para passar informação para os atletas. Nosso time não estava encaixado, e eu lá de fora alterei o time. No intervalo eu avisei ele [Glauber], que me elogiou e disse que fiz bem”.
Hoje, o projeto de vida de Adriano Ferreira Ardaia passa integralmente pelo FC Pantanal, com a família morando na cidade e o apoio contínuo de seu antigo chefe para conciliar os trabalhos. O auxiliar técnico planeja uma transição completa para a formação de novos talentos. Ele não descarta uma oportunidade em outros clubes, mencionando amigos de sua época do XV de Piracicaba que hoje atuam na base e diretoria do clube. Mas, por agora, sua missão é construir uma história em Campo Grande, provando que, para alguns craques, a linha lateral é apenas o começo de um novo campo de atuação.






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