Na voz de um professor
- CAMILA RODRIGUES CUNHA
- há 2 dias
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Flávio Rocha compartilha experiências que moldaram sua visão sobre educação e como ela é um motor de transformação social e pessoal
Por Camila Rodrigues e Juliana Fernandes

Flávio Rocha durante a entrevista.
Foto: Camila Rodrigues e Juliana Fernandes
“Sou professor porque gosto de gente”. O Flávio Rocha de 18 anos ainda não sabia o que queria fazer com seu futuro profissional, a docência se tornou uma possibilidade para ele quando seu antigo professor de língua inglesa, Rubens César Ferreira, lhe motivou em seu último ano do ensino médio na Escola Estadual Riachuelo. No ano seguinte, entrou para o curso de Letras na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), sempre atencioso e proativo, começou a dar aulas de inglês logo em seu primeiro ano de faculdade. “Eu acho que tudo começa na minha vida pela provocação de um professor, que desperta essa vontade de fazer a mesma coisa, de estar junto dos alunos”.
Hoje, Flávio de 41 anos, é professor de literatura no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) do campus de Campo Grande desde sua implantação em 2011, e desde 2012 ele coordena projetos voltados para literatura, sendo o seu primeiro o “Entre Leituras”, surgindo depois o “Arco Literário”, em 2023, como uma ramificação que busca trabalhar com narrativas sobre sujeitos minoritários e da busca por estratégias para a construção de uma cultura da paz no espaço escolar. O Arco, composto por alunos do IF com orientação e idealização de Flávio, é organizado através de reuniões em que debatem sobre as obras que desejam levar às oficinas e rodas de leitura direcionadas para discentes e servidores da instituição. Suas aulas refletem muito de seus projetos, sendo marcadas pela sua personalidade empática como educador e sua escolha de autores diferentes do que é ofertado durante o ensino básico, sendo algum deles: Clarice Lispector, Ruth Guimarães, Natalia Polesso, Maria Firmina dos Reis, Jeferson Tenório e entre outros que trazem temáticas majoritariamente marginalizadas.
Em setembro de 2025, o Arco Literário realizou a primeira Semana do Orgulho no campus formada de oficinas e palestras voltadas para essa temática. Profissionais de diversas áreas participaram e discorreram temas que englobam desde o acolhimento de pessoas LGBTQIAPN+ em religiões de matriz africana, até a representatividade delas no audiovisual e também sobre vozes femininas na ciência. Nomes como Febraro de Oliveira, dono da livraria Hámor, e Kiara de Lá, multiartista na cultura Ballroom de Campo Grande estiveram presentes no evento.
Frutos da educação
Para Nathyara Paixão, aluna de Administração no IFMS e bolsista do projeto, a semana representou um símbolo de evolução, tanto acadêmica, quanto emocional. “Estive com o professor Flávio durante a maioria das palestras e em cada uma tiveram momentos que me marcaram com uma imensa gratidão e uma visão do quanto o trabalho que o arco e que o professor Flávio produzem é importante para a sociedade, para a nossa comunidade no geral.”
Entre diversas histórias, encontramos também a de Nicolas Sá, ex-bolsista do projeto, que relembra quando ele, junto com o professor Flávio e seu colega Thales Oliveira, viajaram para São Paulo e foram premiados em uma feira internacional de ciência e tecnologia do colégio Dante Alighieri (FeNaDante) na categoria de Ciências Humanas. “Para mim é muito significativo ter conquistado medalha de prata entre uma categoria com outros 36 trabalhos, ainda mais com uma temática tão relevante, porém tão apagada, que é a da literatura LGBTQIAP+ nacional. Foram experiências maravilhosas, pessoas, lugares, e saber que tudo isso quem me proporcionou foi um ensino público de qualidade. Estou muito, muito feliz de ter vivido isso”, completa.
Nicolas é acadêmico do 4º semestre de Letras na UFMS. “O Flávio tem total influência sobre a formação de quem eu sou hoje, e do que eu pretendo ser um dia. Através de afetos, reconhecimentos e um letramento literário excepcionalmente mediado por ele, encontrei aquilo que hoje eu vejo como carreira para uma vida toda, ser professor de Linguagens assim como ele”. Nathyara também tem o curso como escolha principal para sua graduação.

Fonte: Flávio Rocha (acervo pessoal)
Com mais de 20 anos de carreira, Flávio, que sempre foi um apreciador de debates e discussões intelectuais, defende que a comunidade acadêmica precisa de mais gentileza e empatia. “Uma coisa que você fala em sala de aula pode mudar a visão de alguém para o bem ou para o mal. Então, a maneira como você se relaciona com as pessoas interfere na formação delas, acho que isso [empatia] é imprescindível para a formação do educador.”. Na maioria das vezes os alunos costumam passar grande parte de sua adolescência no ambiente escolar, seja fazendo projetos, pesquisas, estudos ou até mesmo em momentos de lazer. Tornando os professores, além de educadores que passam conhecimentos e conteúdo, grandes fontes de inspiração. “Talvez a gente não consiga mudar mundos, não consiga mudar a sociedade, nem a nossa escola inteira. Mas conseguimos fazer a diferença na vida de algumas pessoas que dão retorno para a gente depois”.
Flávio possui Mestrado em estudos de linguagem e terminou seu Doutorado em estudos literários em 2018, toda sua formação foi na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. “A formação humana para mim é importante, sou professor porque gosto de gente. Eu gosto de estar com as pessoas e de ajudar naquilo que está ao meu alcance”.






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