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Mulheres têm seis vezes mais chances de ter lesões no joelho

  • Foto do escritor: CAMILA RODRIGUES CUNHA
    CAMILA RODRIGUES CUNHA
  • há 1 hora
  • 5 min de leitura


Por Alice Lemos, Amarílis Pires, João Arakaki, Júlia Bordignon e Manuela Favero


A meio-campista alemã do Bayern de Munique, Lena Oberdorf, lesionou o joelho pela segunda vez após romper o ligamento cruzado na vitória contra o Colônia por 5x1 em 19 de outubro. A jogadora vai ficar afastada dos campos por 15 meses, sendo que dessa vez o golpe veio apenas um mês depois de retornar aos gramados após sua recuperação de outra lesão do mesmo gênero, e na mesma região.

Casos como o de Oberdorf demonstram o risco alto de lesão no joelho nas mulheres, que, segundo especialistas, são mais vulneráveis do que homens nesta articulação. Quando comparadas as probabilidades de lesão em homens e mulheres, o ortopedista Nemi Sabeh Junior, publicou em setembro de 2023 no seu site, que questões hormonais e anatômicas do quadril podem explicar porque as mulheres são seis vezes mais suscetíveis a problemas no joelho.

A fisioterapeuta Luciana Saldanha explica que essa diferença numérica se dá por conta de diversos motivos em relação a hormônios e ao esqueleto feminino. “A mulher tem o estrogênio, e quando ocorre a oscilação de hormônios ela produz uma substância chamada de relaxina, que é o que relaxa as articulações, deixando-as mais instáveis e propícias a lesões no joelho”. Ela ainda complementa que a relaxina é liberada com o intuito de preparar o corpo para uma possível gestação, tornando possível a ampliação do útero.

Luciana explica que o tamanho do quadril na mulher, por ser maior, cria uma angulação diferente em relação ao joelho, podendo causar a patela alta, que ocorre quando se encontra em regiões acima de onde deveria estar, ocasionando dores e complicações na cartilagem. A diferença na angulação contribui também para o maior risco de lesão para dentro. “Quanto maior o quadril, mais chances têm de ter deslocamento na patela do joelho”.


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Luciana Saldanha explicando a diferença no tamanho do quadril entre homens e mulheres




A fisioterapeuta confirma a diferença de casos ocorridos pela quantidade de pacientes não traumáticos que ela recebe por problemas na região. “Quando não é traumático, sim, a diferença existe, são mais mulheres que atendo, por conta das questões hormonais”. Ela recomenda o uso de joelheiras para quem realiza esportes e sente dores no joelho, mas alerta que apenas deve ser equipada quando estiver se exercitando. Segundo a especialista, sua aplicação não pode acontecer em outros momentos, pois impede o fortalecimento da região. Ao escolher, deve-se optar por joelheiras que não possuem furos, por conta da pressão que ela pode estabelecer.


Do mesmo modo, o ortopedista e especialista em cirurgia de joelho Marcelo Luiz Quarteiro diz que as mulheres também são mais suscetíveis a lesionar o Ligamento Cruzado Anterior (LCA). Uma das questões que contribuem para isso é a anatomia do corpo feminino. “O joelho da mulher normalmente é mais valgo, ele é mais para dentro. Em homens, ele costuma ser de 3 a 5 graus para dentro. O comum da mulher é ser de 5 a 7 graus para dentro. Esse é um padrão fisiológico dela. Então, normalmente, por conta disso eu tenho mais instabilidade e posso romper mais fácil o ligamento”.


Para ele, alterações no colágeno também são comuns e colaboram para instabilidades no joelho. Elas ocorrem por causa de um somatório de genes (soma total do material genético), de forma que quanto mais o colágeno é mole, mais fácil ele se rompe, causando lesões. No entanto, essa questão é influenciável. “Tem essa influência genética e tem a influência do meio ambiente. Eu posso nascer com esse colágeno mais molinho, mas eu faço um monte de exercício que ajuda a fortalecer os músculos”, explica. Além disso, de acordo com o ortopedista, a vitamina C melhora a rigidez do colágeno, e, somada a exercícios, ajuda a fortalecê-lo.


Entre as causas de lesões e problemas no joelho mais frequentes entre as mulheres, o fisioterapeuta Luiz Felipe Franco cita a síndrome da dor patelofemoral (SDFP), dor na região da frente do joelho, nas proximidades da patela, mais comum em mulheres pois está associada à maior largura da pelve e alterações biomecânicas, além de entorses e distensões musculares, relacionadas, em geral, à atividades físicas repetitivas, muito comum em atletas, e as tendinopatias (dor que afeta os tendões), mais comum no joelho e ombro.




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Esquema com partes do joelho e locais das dores. imagem: A.D.A.M.




Franco ressalta que, tanto quanto é importante evitar movimentos de alto impacto que possam sobrecarregar a articulação e agravar a condição, é não interromper o tratamento pós-traumático no joelho. Respeitar o tempo de recuperação evita voltar à “estaca zero”, com o retorno de dores e desconforto. “Isso ocorre porque o joelho não terá o fortalecimento e a reabilitação necessários para restaurar completamente sua função e estabilidade”. E ainda diz que dar continuidade ao tratamento é fundamental não apenas para melhorar, mas para prevenir futuras lesões.


A orientação do profissional para prevenir novas ocorrências de problemas no joelho, sobretudo para as mulheres, é continuar com exercícios voltados ao fortalecimento e ganho de força, com foco na musculação, após o término do tratamento. É, também, essencial realizar acompanhamento com um nutricionista, para manter uma alimentação saudável, evitando sobrecarregar as articulações. “A combinação de fortalecimento muscular, controle do peso e exercícios funcionais é essencial para prevenir a recorrência da lesão ou o desenvolvimento de novas complicações”, pontua Franco.




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Exercícios recomendados pelo fisioterapeuta Luiz Felipe Franco



Prejuízo na qualidade de vida


Problemas como instabilidade patelar e luxação do joelho prejudicam não apenas a forma física do corpo, mas também a qualidade de vida de quem sofre essas lesões. Para a estudante universitária Ana Clara Morilho, que tem luxações recorrentes da patela, o deslocamento pode ocorrer com qualquer movimento brusco de agachamento, virada ou ao levantar. “A primeira vez, no joelho direito, foi na minha formatura. No dia da colação eu estava com uma calça que não tinha cós. E aí na hora que eu fui me ajeitar, o joelho foi com Deus. Eu mesma tive que puxar”. Ela relata ainda sentir dores cotidianas, além de inchaços prolongados. “Eu não via meu osso, sabe? Meu joelho era muito inchado, só que eu achava que era gordura.”


Para mulheres, além da instabilidade patelar, o deslocamento do joelho também é algo comum. Segundo a também estudante universitária Ana Paula Souza, após sofrer esse tipo de lesão, teve que abdicar de coisas que gostava em detrimento de manter o quadro do joelho estável, como o balé. Ela descreve a dor como uma fisgada e comenta estalos na região enquanto anda. Morilho e Souza concordam que a melhor alternativa no alívio de suas lesões seriam as voltadas ao exercício físico. “Então, o que eu vou procurar é tentar sempre fazer um esporte e nunca parar, porque aí você fortalece a musculatura e a musculatura segura ele. (...) Eu estou em quase 20 sessões de fisioterapia e estou amando. Ajuda, realmente”, aponta Ana Clara.


Uma forma de prevenção, de acordo com o ortopedista Marcelo Quarteiro, seria realizar uma avaliação com um ortopedista antes de começar a praticar um esporte, para verificar se a musculatura do corpo e a biomecânica conseguem suportar o impacto que aquele esporte gera no joelho. Para ele, uma das atividades que mais pode ocasionar lesões é o beach tennis, por isso é importante fortalecer a musculatura em exercícios na academia, por exemplo, antes de iniciar o esporte. “Tem alguns músculos específicos que você fortalece e que diminui a incidência de lesão para esse tipo de atividade” aponta.


O tratamento pode ser baseado em atividades físicas, como fisioterapia, pilates, academia ou então por cirurgia. Nesse último caso, envolvendo a correção do osso e sua realocação com pinos e âncoras. Caso não seja procurado tratamento, o quadro pode evoluir em questões mais graves como artroses, dessa forma, sendo comumente recomendada a cirurgia.


Ana Clara comenta que não faria o procedimento por ter casos de artrose na família. “Eu teria que lidar com a dor de já ter uma artrose no futuro e ainda lidar com a de ter pino. Aí, dependendo do tipo de exame que você vai fazer, você não pode porque tem pino no joelho. E eu tenho 19 anos, né gente?”.




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