Consumidores driblam preços para participar das tendências da Internet
- lauras05
- há 1 dia
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Diante dos valores altos de produtos virais, muitos recorrem a alternativas criativas e econômicas para não ficar de fora do hype
Jamille Gomes e Victória Costacurta

Livros para colorir, bonequinhos colecionáveis de criaturas folclóricas e uma infinidade de itens que viralizam nas redes conquistam fãs de todas as idades e classes sociais. Os fenômenos digitais têm o poder de transformar qualquer produto em objeto de desejo, impulsionando tendências de consumo que se espalham do dia para a noite. Muitas vezes, as pessoas querem comprá-los, não pela qualidade ou aparência, mas para se sentirem incluídas na moda do momento.
No entanto, nem todos conseguem acessar as versões originais desses produtos, que, geralmente, são caras. Para acompanhar a tendência, famílias de diferentes regiões do país têm buscado soluções criativas e acessíveis, incluindo a produção de versões artesanais, adaptações econômicas ou alternativas que atendam às necessidades de quem deseja participar da moda sem comprometer o orçamento.
Um exemplo de fenômeno que inundou as redes sociais nos últimos meses foi o livro para colorir Bobbie Goods, da designer e ilustradora norte-americana Abbie Goveia. O sucesso foi tanto que, atualmente, Goveia conta com mais de 24 milhões de curtidas em seu perfil na plataforma TikTok. Em sua loja oficial, cada livrinho é vendido por $22 dólares, aproximadamente R$120 mais o valor do frete internacional. Por conta do preço, muitos acabam buscando alternativas mais acessíveis em plataformas como Shopee, AliExpress ou até mesmo em lojas físicas que aproveitaram o hype.

Foi assim com a estudante Isadora Filogênio, de 19 anos, que descobriu o livro de pintura pelo TikTok no final do ano passado e, por conta do preço salgado, decidiu ela mesma imprimir as páginas. Mesmo não sendo o original, a sensação de estar por dentro dos assuntos mais comentados já se faz presente. Ao invés de R$120, ela pagou apenas R$15 e conseguiu economizar para comprar as canetinhas coloridas.

Identidade e pertencimento
Embora os virais alcancem diferentes públicos, a intensidade da influência varia conforme a faixa etária. Entre os pré-adolescentes, a adesão costuma ser mais imediata e intensa, marcada pela sensação de urgência em acompanhar cada novidade. Para o sociólogo Artur Bezerra, vídeos e produtos virais moldam hábitos, gostos e até a sensação de pertencimento.
“Frequentemente, mesmo que não seja algo que aquelas pessoas realmente gostem ou que faça diferença para elas, existe a necessidade intrínseca ao ser humano de aparentar que estão participando junto com todos; cria pertencimento”.
A estudante Kemily Oliveira, de 16 anos, relata como essas tendências impactam sua vida. "Muitas vezes, para não dizer todas, sinto que preciso ter esses produtos para me sentir incluída em um grupo de amigos ou na escola. Às vezes parece que ter aquele item faz com que eu me sinta mais completa". A jovem completa que já trocou várias dicas com amigos sobre onde encontrar versões mais baratas ou alternativas criativas, principalmente em lojinhas do centro ou na Shopee: “porque ninguém quer ficar de fora. No fundo, todos acabam se importando".
A Internet, hoje, ocupa para os jovens o mesmo papel que revistas segmentadas como a Capricho faziam antigamente. Assim como capas e editoriais definiam o que era “descolado” ou “brega”, conteúdos e produtos virais guiam comportamentos e percepções de estilo.

O ciclo de popularidade desses itens costuma atingir seu auge entre os adolescentes, mas a queda também começa nesse grupo, quando muitos passam a considerá-los bregas. Coincidentemente, esse desgaste acontece justamente quando as tendências chegam a grupos de menor poder aquisitivo, perdendo quase que imediatamente o status de moda, completando um ciclo que evidencia tanto a influência quanto a brevidade de fenômenos de consumo. A tendência deve ter um quê de exclusividade.
A febre dos ‘‘Lafufus’’
Criado na China pelo artista Kasing Lung e comercializado pela loja PopMart, um dos recentes fenômenos da Internet tem sido o boneco de vinil Labubu. O personagem viralizou nas redes sociais pela sua aparência diferente do convencional e logo ganhou versões mais acessíveis. Em lojas nacionais, a versão original pode custar de R$80 até R$300, dependendo do modelo.

Diante dos preços elevados, as réplicas logo começaram a surgir, oferecendo opções que raramente ultrapassam os R$40. Lucimara Cardoso, de 42 anos, tem uma loja de brinquedos no centro de Campo Grande - MS e conta que, há dois meses, o produto mais procurado pelas crianças e seus pais é o Labubu. Ela vende cada boneco por R$30 reais, e a versão em chaveiro por R$20.

É possível, também, comprar esses produtos nas ruas com vendedores ambulantes, que mantêm o preço mais baixo ainda - geralmente em torno de R$15 a RS$25. As diferentes versões dos monstrinhos se popularizaram a ponto de ganharem um apelido próprio: são os ‘‘lafufus’’.

Achá-los em máquinas de bichinhos de pelúcia se tornou muito comum em shopping centers.
Confira:
A estudante Carla Alves, de 24 anos, foi ao centro da cidade para iniciar sua coleção dos bonecos de forma mais econômica. Ela comenta que, na época, cada um custava entre R$59,90 e R$79,90. Em lojas oficiais, o preço de um conjunto de três exemplares é de, pelo menos, R$549,90.
O resultado mostra que as febres de consumo conseguem ultrapassar barreiras econômicas e se reinventar no cotidiano.
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