Perto de completar 90 anos, Dourados celebra a conquista do primeiro SAMU Indígena do Brasil
- Karita Emanuelle Ribeiro Sena
- há 4 dias
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O SAMUi foi inaugurado em agosto deste ano e oferece acesso ao atendimento de urgência e emergência, respeitando a realidade, os costumes e a cultura das comunidades indígenas
Por Eduardo Boiago, Maria Clara de Assis e Pedro Fursts

Dourados irá celebrar seus 90 anos de fundação em dezembro de 2025, mas já comemora a implementação da primeira unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Indígena (SAMUi) do Brasil. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, a Prefeitura Municipal de Dourados, o Ministério da Saúde e o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Com a base localizada na área da Reserva Indígena de Dourados, na aldeia Jaguapiru, a unidade já está em funcionamento, atendendo a comunidades de toda a região.
O SAMUi, inaugurado em agosto deste ano, atende a 25 mil indígenas. A aldeia sede foi escolhida de maneira estratégica, por abrigar cerca de 13,5 mil indígenas, segundo dados do censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O serviço, diretamente da aldeia, contribuiu para o avanço da democratização do acesso ao atendimento de urgência e para a redução no tempo médio de resposta na comunidade, que caiu de 20 para apenas 7 minutos, desde a instalação.
O vereador de Dourados, Sérgio Nogueira (PP), destaca a importância da conquista para o município. “Este projeto nasceu da importância de adaptar o atendimento de urgência à realidade das comunidades indígenas, respeitando suas línguas, seus costumes e seus territórios. É um serviço que salva vidas, mas também valoriza identidades”.
Coordenador do DSEI, Lindomar Ferreira explica que a sobrecarga hoje enfrentada pelo órgão deve ser normalizada com os atendimentos feitos pelo SAMUi no Estado. “Uma das principais dificuldades hoje é o ‘empurra, empurra’, onde muitas das vezes alguns municípios se negam a fazer o serviço de emergência, deixando a responsabilidade somente para o Distrito Especial e para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)”.
O coordenador explica que a SESAI é somente a atenção primária e que, a partir do momento em que um membro da comunidade indígena sai do portão do território, a responsabilidade do atendimento de emergência e urgência passa a ser do SUS. “Nós estamos conseguindo superar isso, demonstrando a necessidade de articular com os municípios e com o Estado, de forma que a nossa população indígena seja bem assistida”.
Marcos Almirão é o Cacique da aldeia Jaguapiru e conta que as equipes compostas por profissionais indígenas melhoram os atendimentos, pois ocorre identificação entre profissional e paciente. “Nós temos profissionais indígenas que conhecem cada ‘trilhinho’ do nosso território, então não precisa de um não-indígena vir atuar aqui. E nós queremos indígenas trabalhando com esse serviço, que eles cheguem aqui no acidente e entendam o que está acontecendo. O indígena que sofreu o acidente vai se abrir com o indígena [profissional].”
O secretário da SESAI, Weibe Tapeba, explica que a equipe da unidade móvel é composta por 14 profissionais da saúde fluentes em português e guarani, e metade deles é indígena. Além da identificação, os profissionais também atuam como tradutores nos atendimentos no hospital. “Essa barreira linguística iremos superar exatamente pela presença dos profissionais indígenas que vão atuar como intérpretes nessa relação da unidade de saúde móvel com as outras unidades hospitalares”.
Segundo o coordenador do DESI, a implementação e o fortalecimento do SAMU Indígena contribui com a valorização da autonomia e do protagonismo das comunidades na gestão da sua própria saúde. “A gente acredita no potencial e na capacidade de cada um desses profissionais que estão à frente de um trabalho sem deixar de ser indígena, e sem deixar de replicar os seus conhecimentos e práticas tradicionais dentro dessa instituição”.
Ferreira afirma que o SAMUi precisa de um acompanhamento efetivo por parte dos municípios, do governo do Estado e do governo federal, de forma que o atendimento não perca sua qualidade. “Somente dessa forma entendemos que estaremos entregando uma política de qualidade efetiva e com resultado impressionante nas pontas, lá nos lugares mais longínquos que nós temos dentro do nosso território”.
O programa do SAMUi integra uma política nacional de fortalecimento do SAMU 192, conduzida pelo Ministério da Saúde, que fará repasses de R$ 341 mil anuais para a manutenção do serviço. Desde 2023, o governo federal entregou 2.462 novas ambulâncias a municípios de todo o país, número seis vezes superior ao registrado entre 2019 e 2022, quando foram distribuídas apenas 366 unidades. Atualmente, mais de 4,3 mil ambulâncias estão em operação em mais de 4,2 mil municípios, atendendo a aproximadamente 190 milhões de brasileiros. Ainda este ano, 1,3 mil ambulâncias estão programadas para serem entregues. A meta é que haja a concessão de mais 2,3 mil até o final de 2026.

“O SAMU Indígena de Dourados representa um marco histórico para o Brasil. Ser o primeiro município do país a implantar um serviço dessa natureza demonstra o avanço em políticas públicas que respeitam a diversidade cultural, promovem a inclusão social e garantem igualdade de acesso à saúde”, destaca o vereador Sérgio Nogueira, de Dourados. A unidade móvel é de uso exclusivo dos povos indígenas e tem como objetivo central oferecer dignidade, agilidade e equidade no acesso ao atendimento de urgência, respeitando a realidade, os costumes e a cultura das comunidades atendidas no Estado.






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