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Um monumento à beleza e à conservação da fauna local

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A praça das Araras homenageia aquelas que colorem o céu da capital


Texto Paloma Rainho Maldonado


Em meio ao ritmo vibrante de Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul, encontra-se um espaço que se tornou símbolo da cidade: a Praça das Araras. Inaugurada em 1966, com a proposta de revitalizar uma área pública e promover a conscientização ambiental, a praça abriga uma imponente escultura de araras coloridas, que representa não apenas a fauna local, mas também os desafios da preservação ambiental, tornando-se um marco cultural e turístico da cidade.

 

   A praça é um ponto de encontro para moradores e turistas, e ao longo dos anos, suas esculturas de araras foram se tornando uma referência, não apenas pela beleza, mas pela mensagem de alerta que carregam sobre a preservação das espécies, especialmente da Arara Azul, que é um dos símbolos do Estado.  No entanto, por trás da arte e da cor vibrante, há uma história ainda mais profunda que merece ser contada.

 

A Praça das Araras se destaca pelas três grandes esculturas de araras, um símbolo da Cidade Morena. Cercada por árvores e casas militares, é um espaço tranquilo para a contemplação regional.


Uma Nova Identidade para Campo Grande


Imagem: Sectur


A Praça das Araras surgiu como parte de um projeto maior de valorização do espaço público em Campo Grande, com o objetivo de criar um ambiente de convivência e reflexão para os cidadãos, ao mesmo tempo em que ajudaria na conscientização sobre a preservação da fauna local. O projeto visa, ainda, dar à cidade um novo cartão postal, que pudesse refletir as cores e as riquezas naturais do Estado.

 

   A escultura de três araras coloridas, que ocupa o centro da praça, foi criada pelo artista Cleir Ávila, logo se tornou um dos maiores símbolos de Campo Grande. Ávila relatou que a escolha das araras, animais emblemáticos da região, foi uma maneira de homenagear a biodiversidade local e, ao mesmo tempo, alertar sobre a extinção de algumas espécies, como a Arara Azul, que é vista como um dos ícones da fauna do Estado de Mato Grosso do Sul.


A Relação com a Praça


   Apesar do movimento da praça não estar no seu auge atualmente, é possível notar ao passar em frente a presença de muitos estudantes das Escolas Estaduais General Malan e Maria Constança em dias da semana que, segundo os alunos, passam o tempo lá com os amigos depois da aula. Outros relatos contam sobre o primeiro contato com a praça e a experiência em conhece-la.

Valdelei conheceu a Praça das Araras devido ao seu trabalho como guarda na Justiça Militar, localizada próxima à praça. Ele ainda não conhece o significado ou muitos detalhes sobre a estátua, já que começou a trabalhar recentemente, mas frequenta o local regularmente para chegar ao seu emprego.

Ana Leticia Teixeira, que a conheceu em 2015, conta que foi uma experiência marcante. Ela participou de um concurso promovido por uma grande empresa e ao escolher o monumento teve a intenção de apresentar a praça como cartão postal de Campo Grande para as outras cidades concorrentes. "A escultura tem um significado muito profundo, pois, é uma forma de alertar sobre a extinção das aves, principalmente a Arara Azul. Embora não frequente a praça com regularidade, ela sempre esteve presente na minha vida, seja como referência ou como símbolo", lembra Ana Leticia.

 

Raphael Oliveira de Lima, um motorista de Moto Uber, compartilha uma

experiência semelhante. "Eu sou daqui, mas, só conheci a praça por causa do meu trabalho. Não sei o significado da estátua e, geralmente, só passo por aqui. Nunca parei para observar mais de perto", afirma Raphael, ressaltando como a praça, para ele, é mais um ponto de passagem do que um local de reflexão.

 

   A família Santana de São Paulo que veio visitar a capital, composta por Luiza, Juliana e Ricardo, conheceu a Praça das Araras através de uma pesquisa pela internet sobre pontos turísticos de Campo Grande. "Achávamos que veríamos araras reais, mas, nos deparamos com as esculturas", conta Luiza, sobre a surpresa ao encontrar o monumento. Juliana completa: "Deixamos a praça para o final da viagem, mas estava tudo fechado no domingo. Mesmo assim, a escultura é bonita e interessante." Para Ricardo, a experiência foi um pouco diferente do esperado, mas, ainda assim positiva. "É uma homenagem legal à fauna local", diz ele.

 

Eduardo Silva, por outro lado, teve contato com a praça de maneira maisrecente, quando foi convidado pela escola de seu filho para uma visita. "Eu conheci a praça hoje através da escola do meu filho, devido a uma solicitação

 de trabalho sobre o artista Cleir. Não sei muito sobre o significado da estátua, mas, venho com frequência às praças da cidade", diz Eduardo, que, apesar de não entender a fundo o simbolismo da obra, reconhece sua importância como ponto de encontro.


 

   Dona Lurdes, que vive na região há mais de 30 anos, também se lembra da transformação do local. "Quando eu me mudei para cá, a praça era um posto de saúde. Depois, o local foi transformado na Praça das Araras. Não venho com frequência, mas, sei que a praça é bonita", comenta que, assim como muitos outros moradores, não conhece completamente o significado do monumento, mas, valoriza o espaço.

 

Embora o significado da escultura seja desconhecido por muitos, a praça

continua sendo um lugar de convivência e lazer, onde os moradores de

Campo Grande se encontram, compartilham momentos e, inconscientemente, são tocados pela mensagem que a arte transmite.


O Olhar do Criador: Cleir Ávila e a Arte das Araras

 

Cleir Ávila compartilha com convicção sua visão sobre a arte e a escultura da Praça das Araras. Para ele, a obra é mais do que uma peça de arte; é uma forma de comunicar a necessidade urgente de preservar o meio ambiente e de fortalecer a identidade cultural de Campo Grande. Apesar das críticas, ele segue firme em sua crença de que a arte deve ser vista como uma forma de expressão livre, que conecta as pessoas à reflexão sobre o mundo em que vivemos e sobre a importância de preservá-lo para as gerações futuras.


Entrevista com Cleir Ávila

Criador da escultura


1) O que o inspirou a criar a escultura da Praça das Araras?

A inspiração veio da minha vontade de retratar as araras, que são símbolos da fauna local, e de transmitir uma mensagem de conexão com a natureza. A ideia central era mostrar, por meio da arte, a importância da preservação ambiental e como podemos viver em harmonia com o ecossistema. As araras, que frequentemente voam pelo céu de Campo Grande, se tornaram para mim uma metáfora da liberdade e da vida que ainda podemos preservar, se cuidarmos bem do nosso meio ambiente.

2) Qual foi o maior desafio no processo de criação e instalação da obra?

O maior desafio foi a parte estrutural. Embora eu tenha contado com um bom orçamento para o cálculo estrutural, a transição de uma escultura de arame para ferro foi um processo mais complexo. A modelagem em arame foi relativamente tranquila, mas ao passar para o ferro, a solda e a adaptação das técnicas exigiram muito mais cuidado. Além disso, trabalhar em andaimes de madeira foi complicado. Eu não sou fã de altura, e com o tempo, a madeira vai se deteriorando, o que tornava o trabalho ainda mais difícil. Felizmente, conseguimos substituir o andaime de madeira por um de ferro, o que trouxe mais segurança e estabilidade.

3) Como você vê a importância da escultura para a identidade cultural de Campo Grande?

Vejo a escultura como algo muito simbólico para a cidade. Toda obra que se torna um ícone e um ponto de referência ajuda a fortalecer a identidade cultural de um lugar. A Praça das Araras não é apenas uma obra de arte, mas um lembrete constante da relação da cidade com a natureza. Quando as pessoas passam por ali, elas acabam se tornando mais sensíveis à importância da preservação ambiental. Campo Grande é uma cidade que ainda tem muitas árvores, araras voando no céu e uma grande diversidade de fauna e flora. A escultura ajuda a reforçar essa conexão e a valorizar o nosso ecossistema.

4) Que mensagem você quis transmitir com a obra?

A mensagem é simples: a necessidade de aprender a viver em harmonia com a natureza. A obra é um convite à reflexão sobre a preservação ambiental e sobre como a natureza deve ser valorizada, não apenas como um recurso, mas como parte essencial da nossa vida e do nosso futuro. Acredito que as araras, com sua beleza e simbolismo, nos lembram da fragilidade do nosso ecossistema e da urgência de protegê-lo.

5) Como foi a recepção da escultura pela população e pela crítica?

A recepção da população foi maravilhosa, super positiva. A arte, para mim, é feita para o público, e ver as pessoas interagindo com a obra e apreciando-a é uma grande satisfação. Claro que, como em todo trabalho artístico, sempre existem críticas. Algumas pessoas tentaram politizar a obra, associando-a a questões partidárias, mas isso não me atinge. Essas críticas, muitas vezes vindas de pessoas ligadas a campanhas eleitorais, tentaram diminuir a importância da obra, mas eu vejo isso como uma visão muito limitada e pobre de espírito. A arte deve ser apreciada pela sua mensagem, independentemente de qualquer contexto político. No fim das contas, o que importa é que a obra é única e reflete o meu estilo pessoal, sem qualquer vínculo com interesses partidários.

 

 

A Importância Cultural e Ambiental da Praça



A escultura das araras se tornou um poderoso símbolo de resistência à extinção das espécies, principalmente da Arara Azul, que é uma das espécies mais importantes não só do estado, mas do Brasil todo. A praça, com sua exuberante arte, busca alertar para a necessidade de preservação da fauna e, ao mesmo tempo, valorizar a cultura e as tradições do estado.

Para os que visitam a praça, mesmo sem compreenderem seu significado completo, a experiência de estar no local é única, principalmente quando se está acompanhado da família ou amigos, que é a maior parte dos casos. A praça oferece não só um refúgio, ou um simples passeio, mas também, um convite à reflexão sobre a natureza e a necessidade de protegê-la para as futuras gerações.


O Futuro da Praça das Araras


Com o passar dos anos, a Praça das Araras continua sendo um ponto de encontro para os cidadãos de Campo Grande e para os turistas. Embora o significado da escultura nem sempre seja plenamente compreendido. A cidade, com sua mistura de modernidade e preservação de suas tradições, encontrou na Praça das Araras um símbolo de sua identidade cultural e ambiental.

Para aqueles que ainda não conhecem a praça, é hora de fazer uma visita e olhar com mais atenção para as araras que ali se erguem. Suas penas vibrantes, refletindo o sol, são um convite à preservação da natureza e à celebração da riqueza da fauna local.



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