A alta da moeda tem pressionado os custos de produção de laticínios em Mato Grosso do Sul, refletindo no aumento de preços e desafios para indústria e consumidores
Daniel Baptista e Nayane Aleixo
Nos últimos meses, o aumento do dólar tem gerado uma série de repercussões econômicas, impactando setores diversos da economia brasileira. Um dos afetados é o setor de laticínios, responsável por uma parte significativa da produção agrícola do país. Este fenômeno, que muitas vezes parece distante do cotidiano do consumidor, tem influências diretas sobre os custos de produção e o preço final dos produtos lácteos.
O preço do dólar afeta diretamente a produção de laticínios de diversas maneiras. Primeiramente, muitos insumos utilizados na fabricação de leite e derivados, como medicamentos veterinários, embalagens e equipamentos de produção, são importados. O aumento do valor da moeda americana torna esses itens mais caros para os produtores brasileiros, elevando o custo de produção dos laticínios.
O produtor rural Cirineu Baptista afirma que o custo de produção cresce com o aumento do dólar. “Muitos dos nossos equipamentos são importados, as teteiras, peças de ordenha, peças de outras máquinas que também usamos durante a produção, todas são importadas”.
Outro fator importante é o impacto nos custos logísticos. O combustível, fundamental para o transporte do leite das fazendas até a cidade, também tem sofrido aumentos devido à alta do dólar, já que o preço do petróleo e seus derivados segue a cotação internacional. Além disso, embalagens, equipamentos e aditivos usados no processamento de laticínios frequentemente dependem de matérias-primas importadas, elevando ainda mais os custos.

Além disso, o impacto da alta do dólar no setor não se limita apenas ao aumento dos custos de produção. A economista Aline Moreira explica que o aumento da moeda norte-americana pode ter efeitos negativos, mas também oportunidades para alguns produtores. "Os produtores rurais que dependem de materiais importados acabam sendo afetados negativamente, porque o custo fica mais caro com a alta do dólar. Por mais que agora a gente possa olhar ele estando em queda, ainda tem essa volatilidade muito alta, e ainda está em um valor muito alto", observa a economista.
Com a elevação dos custos, muitas indústrias lácteas precisaram reajustar os preços dos produtos, como leite, queijos e iogurtes. Isso afeta diretamente o consumidor, que sente no bolso o impacto das variações cambiais. O aumento dos preços pode, inclusive, reduzir o consumo desses produtos, afetando a demanda e trazendo desafios para toda a cadeia produtiva, além de representar ameaça à segurança alimentar.
Aline também aponta que, para os produtores voltados para a exportação, a situação é diferente. "Aqueles produtores rurais cujo foco é exportar o produto final, acabam conseguindo lucrar mais com o dólar valorizado, já que ao converter o valor para reais, eles recebem mais. Muitos desses produtores preferem exportar, o que pode até encarecer os preços no mercado doméstico".
A professora de Matemática e consumidora de produtos lácteos, Paula Gomes, afirma que buscar marcas genéricas é uma das opções para economizar. “A preferência é sempre um produto com uma marca melhor, mas do jeito que está, se não quiser retirar o produto do cotidiano, o jeito é escolher uma marca mais em conta e como consequência, uma qualidade menor”.
A oscilação do dólar deve continuar impactando o setor lácteo nos próximos meses. A previsão é de que os preços sigam elevados, pelo menos enquanto o cenário econômico global permanecer instável. o produtor Cirineu afirma que para grande parte dos produtores e indústrias, a chave estará na capacidade de adaptação e na busca por soluções inovadoras para manter a competitividade no mercado
Enquanto isso, os consumidores devem continuar sentindo no bolso os reflexos desse aumento, tornando essencial o acompanhamento das políticas econômicas que possam influenciar a estabilidade cambial e, consequentemente, os preços dos produtos lácteos.
A alta do dólar torna os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, mas também coloca a produção nacional à frente da concorrência de outros países produtores. Isso pode afetar a balança comercial de laticínios. "Com a alta do dólar, os laticínios brasileiros ganham competitividade no mercado internacional, mas também enfrentam maior concorrência de outros países produtores, como a Argentina e o Chile, que também exportam seus produtos a preços vantajosos devido à desvalorização de suas moedas", conclui a economista.

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