Vida noturna na capital do MS se restringe a um supermercado aberto 24 horas
Lanna Emi, Polyana Vera e Reuel Oliveira
As madrugadas na cidade Morena costumam ser pacatas. Uma lei municipal de 1996 estabelece que o horário do comércio se estende até as 22h. Sem muitos estabelecimentos abertos, vários moradores da cidade se refugiam no único supermercado que opera durante a madrugada.
Ao entrar nos corredores bem iluminados do supermercado no bairro Santa Fé, a escuridão da noite fica esquecida ao lado de fora. O vazio esperado foi preenchido por uma diversidade de clientes que transitavam. Passando no corredor de massas, uma mulher de meia idade com seu óculos na ponta do nariz, observava calmamente uma embalagem. Júlia Freire Silva, funcionária pública, apresentava uma serenidade ao selecionar suas compras. Enquanto guardava o cereal escolhido em seu carrinho, ela contou que sempre faz compras depois da meia noite, horário em que pode escolher com mais calma. “É porque é mais vazio à noite, a noite é mais tranquila”.
Ao continuar o trajeto, a cena da mulher tranquila foi substituída por risadas altas e cerveja. Várias pessoas dividiam suas mãos entre a cerveja já aberta e o carrinho de compras. Acompanhado de dois amigos, Vinicius Porto explicou que sempre vão ao supermercado de madrugada, pois é onde encontram alimento e bebidas nessas horas.
Vinicius Porto com as comidas que separou para acompanhar sua cerveja. Foto: Lanna Emi
Visivelmente alterado pelo consumo de álcool, Vinicius puxa uma mulher pela cintura ali mesmo no supermercado. Incomodada com a situação, a mulher pediu para que parasse e disse que não estava à vontade. O jovem só parou quando um de nossos repórteres interveio. Nenhum segurança do supermercado circulava naquele momento.
A situação não é única, a operadora de caixa que preferiu não ser identificada menciona que, embora a maioria dos encontros seja amigável, já enfrentou situações de assédio por parte de alguns clientes. "Às vezes, é difícil lidar com alguns clientes, mas temos protocolos para manter a segurança".
A caixa explica que os clientes que passam por seu horário de trabalho são muito variados e apesar de só trabalhar há três meses no supermercado, já tem histórias para contar. “Tem tudo o que é gente nesse horário, desde os mais velhinhos, que não quer dizer que sejam tranquilos, até os adolescentes, e algumas pessoas que já estão mais alteradas”. Ao perguntarmos se ela presenciou algum fato problemático, ela nos relatou que alguns eventos chegaram a ser caso de polícia.
No corredor de bebidas estava Eros Rios, empreendedor, que para contrariar as outras pessoas, mantinha as bebidas lacradas no carrinho. Sua rotina é agitada durante o dia, então precisa aproveitar a madrugada para reabastecer o estoque de seu bar. "É uma maratona, mas precisa ser feito". Eros possui um bar na cidade de Bonito. Para ele, a noite é uma oportunidade de organizar seus negócios. Fazer compras nesse horário é só mais uma das atribuições que o empreendedor deu à madrugada. Seu carrinho de compras transborda com uma variedade de bebidas, ele estava escolhendo quais levaria para seu comércio. Eros Rios explicou que na capital há mais variedade de bebidas, então aproveitou a viagem para levar novidades para o interior.
No mesmo corredor estava uma família - pai, filha e genro. O casal conversava entre si, decidindo quais seriam suas compras, enquanto o pai saboreava um salgadinho. Anderson Braga, empresário, conta que foi ao supermercado porque era o local mais próximo de sua casa que estava aberto. “Precisei vir agora por causa da correria do dia a dia né, não tive tempo de cozinhar, então vim comprar algo pra gente comer”. Ele afirma que isso é algo recorrente em sua casa, pela falta do tempo, sempre precisam recorrer ao Comper para terem algo para comer de madrugada.
A repositora de estoques, Jéssica Bruna Dutra, conta suas experiências ao trabalhar de madrugada. Foto: Polyana Vera
Um pouco mais adiante, uma funcionária ria alto ao conversar com uma senhora. Jéssica Bruna Dutra é repositora de estoque do Comper, e nos conta que o horário a faz ter as melhores conversas. “A gente acaba interagindo com o pessoal, essas pessoas sempre têm história pra contar, tem bastante coisinha que eu gosto muito nessas horas”. Jéssica fala que apesar de sempre terem pessoas alteradas que estão buscando um pós festa, pode sempre ter uma boa conversa com os idosos e famílias que preenchem os corredores do supermercado.
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