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Inteligência artificial e o paradoxo da originalidade: o caso Studio Ghibli

  • lauras05
  • 30 de abr.
  • 2 min de leitura

Milena Yuka Hashimoto

Nos últimos meses, uma nova tendência tomou conta das redes sociais: transformar fotos comuns em imagens com a estética do Studio Ghibli, famoso estúdio japonês de animação, por meio de inteligência artificial. Basta um clique para que rostos ganhem traços delicados, paisagens se transformem em cenários encantados e para que a arte seja completamente banalizada. 

O que antes envolvia tempo, técnica e intenção, agora é reduzido a uma resposta automática de máquina - bonita, sim, mas desprovida de qualquer vivência ou sensibilidade original. Ao transformar qualquer imagem em “Ghibli”, sem contexto ou propósito, a IA não presta só homenagem: ela imita. E imitar, quando descolado do processo humano de criação, é também, uma forma de apagar aquilo que faz da arte...arte.

Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, já expressou publicamente seu desprezo pelo uso da inteligência artificial no campo criativo. Em uma ocasião, declarou com firmeza: “Isso é um insulto à vida.” Para ele, o ato de criar está profundamente ligado à experiência humana - aos gestos, aos silêncios, às dores e alegrias que uma máquina simplesmente não pode compreender. 

Cada cena de um filme do estúdio não é apenas resultado de um estilo visual, mas de uma construção afetiva, artesanal e profundamente autoral. Quando reduzimos essa construção a um filtro automático, ignoramos não só a estética verdadeira, mas principalmente a ética e a sensibilidade por trás dela.

Esse movimento revela um paradoxo: quanto mais realista ou fiel à estética original a IA tentar ser, mais ela se distancia daquilo que realmente importa - a intenção. A inteligência artificial pode replicar padrões visuais, cores, traços e atmosferas, mas não pode criar significado. Ela não tem dúvidas, memórias ou sentimentos. Ela calcula. E é justamente por isso que as imagens geradas, embora belas, carecem de profundidade. São superfícies encantadoras, mas ocas.

Enquanto a inteligência artificial transforma memórias em imagens encantadas com traços do Studio Ghibli, cabe a nós perguntar: estamos celebrando a obra de Miyazaki ou esvaziando seu legado? O clique pode ser rápido, mas o impacto cultural e simbólico dessa automatização da arte merece uma pausa. Porque, no fim das contas, arte de verdade não se cria por comandos. Se vive.


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