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Descaso, escuridão e insegurança

  • lauras05
  • 17 de abr.
  • 5 min de leitura

A deficiência na iluminação pública em áreas afastadas da capital sul-mato-grossense geram insegurança e dificultam a vida dos moradores


Arthur Ayres, Gabriel Issagawa, Geovanna Bortolli e Sarah Neres



Lâmpada de iluminação pública queimada na região central de Campo Grande.  Foto: Arthur Ayres
Lâmpada de iluminação pública queimada na região central de Campo Grande.  Foto: Arthur Ayres

Quando o sol se despede e a noite se estende sobre as ruas do Bairro Nova Lima e Jardim Colúmbia, na região norte da cidade de Campo Grande (MS), moradores como Cristiane Oliveira, acadêmica do Curso de História na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), são castigados pelo descaso do poder público. Mergulhados na escuridão, veem seus sentimentos tomados pelas incertezas das promessas eleitorais sobre as mudanças na infraestrutura. Além dos medos visíveis, em passos rápidos nas ruas escuras, por vezes é necessário mudar de rota ao retornar para casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Ou então há a necessidade  de optar por aplicativos de corridas, como Uber ou 99, que impactam o planejamento financeiro do mês.

O bairro fica afastado, no extremo da cidade, na região urbana do córrego do Segredo entre a reserva ambiental do hospital São Julião e a BR 163. Cristiane enfrenta a escuridão da noite ao lado de sua casa, a rua lateral (Guaicuru) não possui ponto de iluminação, nem mesmo a estrutura de postes para a instalação da luz.  Uma ironia, já que é a primeira rua lateral do bairro. “Se você tem uma rua escura ou uma praça, eu como mulher já penso duas vezes em caminhar por essa rua sozinha, então só se em dia que eu estiver muito corajosa porque eu tenho que estar ciente que algo pode acontecer ali”, afirma Cristiane.

A secretária da Associação dos moradores do Bairro Jardim Columbia comenta que os trabalhadores são os mais afetados, pois além da exaustão de um dia intenso de trabalho, têm que se preocupar com algo a mais em sua rotina. “Quem mais sente essa falta de estrutura são as trabalhadoras, são as pessoas que vêm e voltam para o bairro como moradoras”. 

A rua Purús, lateral de uma reserva florestal, fica atrás do único local de lazer do bairro, o campo de futebol. Recentemente, o local foi iluminado, mas já houve roubo de fios, prejudicando a iluminação pública. No restante da rua não há pontos de iluminação.

“Todo lugar que tá muito escuro, ele é a fenda para criminalidade, ele é o lugar para que a violência aconteça.”

Nos grupos de whatsapp, os moradores compartilham as dificuldades com a segurança
Nos grupos de whatsapp, os moradores compartilham as dificuldades com a segurança

A atual prefeita Adriane Lopes, reeleita após seu primeiro mandato (2022-2024), prometeu em seu plano de governo levar iluminação de LED a todas as ruas e espaços públicos da capital. A mesma estrutura de projeto estava inserida no plano de governo do ex-prefeito Marquinhos Trad (2017-2022). Após três anos da primeira gestão, as promessas não foram

cumpridas.

As lâmpadas de LED podem economizar cerca de 50% a 80% de energia e requerem menos necessidade de manutenção. Elas também não emitem raios ultravioleta (UVA) e não possuem materiais tóxicos em sua composição. O engenheiro elétrico Bruno Candia Dalla fala que a troca é benéfica. “Em relação à iluminação de LED, a gente tem uma melhor eficiência que em larga escala, que eu vou utilizar na iluminação pública, auxilia, principalmente em relação a gastos”. Porém, o problema da capital vai além da troca de lâmpadas. “Acredito que tem como haver uma melhor distribuição da iluminação. Tem muita iluminação mais antiga, mas no decorrer do tempo foi se atualizando. Mas ainda há áreas que precisam dessa melhoria e da própria implementação da iluminação pública”.

Em 2024, Campo Grande ficou em décimo lugar entre as cidades que mais arrecadaram com a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP). A taxa cobrada na conta de energia ajuda a financiar a iluminação pública, como conserto de postes, a modernização do sistema elétrico e a energia de prédios públicos. Além disso, o Parque das Nações Indígenas, principal ponto turístico da cidade, foi fechado por duas noites consecutivas em janeiro de 2025 devido a problemas na rede elétrica. Por causa disso, o parque passou a fechar às 18 horas por questões de segurança.

Plano de Governo 2025-2028
Plano de Governo 2025-2028

A falta de luz é um problema recorrente em toda capital, agravado pela ineficiência do poder público em oferecer respostas aos moradores. Elisa Rodrigues, moradora do Parque do Lageado há 12 anos, tornou-se uma das líderes na luta por melhorias no bairro. “Há muitas ruas que não possuem todos os braços que a gente fala, de braços e postes, porém a iluminação tá queimada e às vezes você faz a mobilização para fazer a solicitação para a prefeitura, uma demora para fazer a troca desse serviço público”.

Além do problema de manutenção nos postes, a iluminação atinge apenas a parte principal do bairro. “As áreas mais iluminadas, na maioria são as áreas que são asfaltadas. Como no bairro, mais de 80% não é asfaltado, então você tem aí uma predominância muito grande de falta” reforça Elisa. Ela já fez diversas solicitações para melhorias em diferentes áreas do bairro. Segundo ela, a pavimentação asfáltica é essencial, pois, além de ser o mínimo de urbanização, garantiria a chegada de iluminação pública nesses trechos.  

 


 O Parque do Lageado é composto por seis parcelamentos de bairros: Teruel Filho, Dom Antônio Barbosa, Jardim Colorado, Parque do Sabiás, Parque do Sol e Parque do Lajeado.

A avenida Evelina Figueiredo Selingardi, que cruza todos esses parcelamentos, deveria ter prolongamento até a BR. “Esse pedaço que cruza, que acaba a Avenida que deveria ter o seu prolongamento até BR dá 512 m de distância. Esses 512 m não possuem nenhum tipo de iluminação. E já tem inúmeras solicitações para que instalasse pelo menos braços, postes, iluminação básica”, relata Elisa.

A falta de iluminação nesse trecho impacta diretamente a mobilidade e o direito de ir e vir. Elisa relata como essa situação afeta os trabalhadores do bairro. “Fizeram um grande posto de gasolina e fizeram uma chamada de contratação para os jovens trabalharem nesse posto de gasolina. Porém, os horários de trabalho estavam complicando total, muitos começaram a trabalhar e desistiram por conta da insegurança desse pequeno mundo.” A falta de iluminação e segurança na avenida tem prejudicado um novo empreendimento que poderia impulsionar a economia local. “Não tem transporte nesse pedaço. Só que a insegurança de ter que sair 6 horas da manhã e ir até esse pedaço ou 5 horas da manhã, às vezes ainda tá escuro, ou até sair, entra 2 horas da tarde, mas sai 10, 11 horas da noite, e muitos jovens que moravam ali desistiram, porque muitos foram abordados e foram assaltados ali”.

 Em contato com a assessoria da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), para questionar os frequentes problemas de iluminação na cidade, a resposta do órgão foi que, no momento, estão impossibilitados de conceder entrevistas. O motivo indicado foi que o secretário, juntamente com os superintendentes, está ocupado em reuniões para dar andamento aos projetos, buscar recursos para novos projetos e também atualizar o que ficou pendente de 2024.

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