Chuva intensa expõe caos na infraestrutura da capital
- lauras05
- 17 de abr.
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Moradores relatam problemas com buracos, alagamentos e a falta de manutenção nas vias de Campo Grande
Gabrielle Lima, Júlia Barreto, Letícia Furtado, Roberta Dorneles e Sanny Duarte

As fortes chuvas que vêm atingindo Campo Grande voltaram a evidenciar os problemas estruturais da capital. Vias alagadas, buracos encobertos por água e a falta de drenagem adequada dificultam a locomoção, principalmente nas periferias, onde a falta de pavimentação agrava os impactos dos temporais. Moradores relatam prejuízos e acidentes causados pelas ruas precárias, tanto em dias de chuva quanto em períodos de tempo seco.
As ruas esburacadas da capital se transformaram em dificuldades frequentes para motoristas e motociclistas, especialmente em dias de chuva. A água acumulada esconde buracos e aumenta os riscos de acidentes. O problema tem causado prejuízos financeiros, acidentes e dificuldade na mobilidade, especialmente para trabalhadores que dependem do veículo para sustento.
O motoboy Fagner Umbelino, que depende do celular para garantir a renda da família, sofreu um acidente na última quinta-feira (20), ao passar por um buraco na Avenida Doutor Nasri Siufi, em Campo Grande. Ele transportava uma passageira quando conseguiu desviar de um buraco, mas não do segundo que era maior. O impacto fez com que seu celular caísse no chão e fosse destruído após ser atropelado por outros veículos. Além disso, a roda da moto entortou e a suspensão quebrou. “Levei na assistência, mas não teve conserto. Só prejuízo”, comentou Fagner.
Essa não foi a primeira vez que enfrentou problemas na mesma avenida. Quase um ano antes, passou por um buraco enquanto transportava sua mãe, de 60 anos, na garupa. A queda resultou em uma fratura grave no pulso dela, o que exigiu uma cirurgia com pinos e afastamento pela previdência social. Além disso, os danos à moto são frequentes. “Já troquei suspensão duas vezes, caixa de direção, roda e pneu. As ruas estão intransitáveis. Ou você anda trepidando nos remendos ou em zigue-zague entre os buracos”.
O motoboy critica a falta de manutenção e aponta desigualdade na infraestrutura viária da cidade. “Não adianta ficar remendando, tem que recapear tudo. Nos bairros nobres o asfalto é liso, como no Parque dos Poderes e na Afonso Pena. Agora vá a São Conrado, Tijuca, Aero Rancho, Los Angeles. É terrível”, afirma Fagner.

Situações semelhantes foram relatadas por outros moradores de outros bairros de Campo Grande. Ludmila Pedro relatou que com menos de quatro mil quilômetros rodados, sua moto já teve dois pneus rasgados ao passar por buracos na Avenida Presidente Ernesto Geisel. As reclamações sobre a falta de manutenção viária não são recentes. Diversos bairros enfrentam problemas estruturais, e a situação piora em períodos chuvosos, quando os buracos aumentam e a sinalização se torna insuficiente.
No Jardim São Conrado, uma moradora registrou a rua sem pavimentação adequada após a chuva. A via, tomada por buracos e lama, dificulta a passagem de moradores e o acesso ao comércio. Situação semelhante ocorre no Guanandi I, onde, apesar do asfalto, as crateras se espalham pelas ruas, o que prejudica o trânsito e a passagem dos pedestres.

O trabalhador Valdeci Santos relatou morar no bairro Guanandi há 44 anos e que atualmente as ruas se encontram na pior situação desde a sua chegada ao bairro. “As autoridades não vêm aqui fazer uma fiscalização e nem sequer atendem as notificações que os moradores fazem”. Um asfalto muito antigo, como nesse caso, requer uma atenção maior, visto que eles são suscetíveis a sofrer mais deteriorações do que um asfalto novo e isso acaba interferindo na segurança e durabilidade da estrada. “Acredito que por o asfalto ser muito antigo, teria que ser feito um serviço de restauração completa ou um recapeamento”.

De acordo com o morador, há três meses uma empresa veio ao bairro para fazer o serviço de tapa buraco, no entanto, pararam com o serviço e deixaram os buracos abertos, “E com a chuva, aqueles buracos ficaram maiores e apareceram mais do que já tinha e até agora ninguém fez nada e nem falam em fazer algo, é um silêncio total”.

A umidade, o calor, e diversos outros fatores interferem na degradação do asfalto, e especialmente a chuva pode trazer vários pontos negativos que contribuem para a abertura de novos buracos, pois a água pode entrar nas fissuras e gerar infiltração de água. “Essa rua que eu moro aqui, indo no sentido da Avenida Gunter Hans, você não consegue andar, eu já caí em um buraco ali, quebrou o amortecedor do carro e tudo isso é um problema”, completou Santos.
O engenheiro civil Marcus do Nascimento Rachid, declarou que, como qualquer obra ou serviço de engenharia, cada situação relacionada aos buracos nas ruas deve ser avaliada profundamente por um profissional, para que haja uma resposta sobre o motivo de cada patologia rodoviária. "Desta forma, só é possível emitir neste momento um parecer preliminar, baseado na minha experiência pessoal em obras de pavimentação na capital".
Rachid ressaltou que os problemas apontados atualmente pela população da capital podem ser causados por problemas da massa asfáltica na capa de rolamento (conhecida popularmente como asfalto), problemas com a pintura de ligação entre capa de rolamento e a base (emulsão asfáltica), problemas com a impermeabilização da base (asfalto diluído), problemas com de infraestrutura de terraplenagem (camada final do corpo de aterro, corpo de aterro e reforço do subleito), problemas de infraestrutura de drenagem profunda e superficial (falhas nos dispositivos de sarjetas, meios-fios, bocas de lobo e tubos de ligação), em conjunto ou separadamente, caso não sejam comprimidos os mínimos parâmetros técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT).
O engenheiro civil comentou que o tráfego de veículos pesados influencia de maneira significativa a formação de buracos e aumenta o desgaste da estrutura de pavimento. Ele destacou que o uso de materiais de baixa qualidade e os parâmetros técnicos do DNIT, compromete completamente a duração do pavimento. "É previsto que haja uma vida útil de 8 a 12 anos, caso o pavimento seja feito à luz dos parâmetros técnicos do DNIT e caso sejam feitas as manutenções previstas nas normas técnicas".
De acordo com Rachid, o fato de os buracos aparecerem nos mesmos lugares mostra que a execução de tapa buraco, em tais pontos, não é suficiente e precisa ser realizado um tratamento mais profundo, como ações na base e sub-base do pavimento e, se necessário, ações de drenagem local.
"Creio que na maior parte da cidade precise de uma intervenção profunda na pavimentação, em todas as duas fases, desde capa de rolamento até o sistema de drenagem. Não há o que se pensar em manutenção quando os procedimentos básicos são inexistentes ou insuficientes".
O engenheiro civil declarou que cada caso e trecho deve ser avaliado e que é possível observar que diversos pontos do pavimento da capital possuem falhas em uma fase ou mais da estrutura do pavimento, como na capa de rolamento e base, impermeabilização de base com asfalto diluído, execução da base e sub-base, execução do reforço de subleito, entre outros pontos do pavimento.
"Com certeza a Secretaria de Obras do município possui em seu quadro profissionais experientes e competentes que já fizeram um mapeamento da situação da pavimentação da cidade. Desconheço os valores despendidos pela Prefeitura de Campo Grande na pavimentação da cidade, assim como seu cronograma de desembolso ao longo dos anos e do crédito disponível para tal investimento".
Uma pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT) avaliou 4,7 mil quilômetros de rodovias estaduais e classificou a infraestrutura viária de Mato Grosso do Sul como “regular”. Apenas 1,7 mil km de asfalto são considerados “ótimos”, e 2,6 mil km possuem sinalização em boas condições.
No município, a prefeitura, em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, repassou R$15 milhões em 2023 para destravar R$180 milhões do Governo Federal destinados a obras na capital. Os recursos devem beneficiar áreas degradadas dos córregos Bálsamo, Segredo e Taquaral. A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SISEP) é responsável pela manutenção viária, saneamento e fiscalização de obras, mas bairros afastados ainda enfrentam problemas estruturais agravados pelas chuvas.
A reportagem tentou contato com a SISEP para obter informações sobre a falta de estrutura nas vias de Campo Grande. Em resposta à equipe de reportagem, a secretaria informou que, devido à alta demanda gerada pelos estragos do temporal de terça-feira (18), não conseguiria responder.
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