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Campo Grande enfrenta crise na saúde pública com falta de medicamentos básicos

  • lauras05
  • 17 de abr.
  • 5 min de leitura

A superlotação de prontos socorros, escassez de insumos e condições de trabalho precárias compõem a realidade das unidades de saúde da capital


Andrella Okata, Eliel Dias, Emilly Nunes e Gustavo Nascimento


Área Vermelha: Hospital Santa Casa sofre com superlotação - Foto Andrella Okata
Área Vermelha: Hospital Santa Casa sofre com superlotação - Foto Andrella Okata

De acordo com o boletim epidemiológico da Dengue da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, o estado já recebeu do Ministério da Saúde 241,030 mil doses de vacina contra a dengue. Atualmente Mato Grosso do Sul já registrou mais de dois mil casos confirmados neste ano de 2025.

Mas, Campo Grande registra escassez de medicamentos nas farmácias dos postos de saúde. Entre os itens ausentes, estão em falta remédios considerados básicos. Entre os medicamentos em falta estão amoxicilina, omeprazol, dipirona, paracetamol e clindamicina, que auxiliam no alívio de dores e tratamentos de infecções. Mais de 100 medicamentos básicos estão em falta ou com estoque reduzido nos postos de saúde.

A superlotação de prontos socorros, escassez de insumos e condições de trabalho precárias marcam a crise na saúde. De acordo com dados do Painel Público da Secretaria de Estado de Saúde,  49 medicamentos estão em falta e 18 estão em processo de entrega, como a Danazol 200 mg com 300.000 pedidos para estoque. Seringas e agulhas em falta, e ausência de local adequado para descarte de materiais têm afetado o atendimento.

De acordo com o farmacêutico da Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Emília, Tiago de Souza Bento, a falta de medicamentos nos postos de saúde é sazonal, causada por fatores como questões logísticas, questões laboratoriais entre outros aspectos que impedem a chegada dos medicamentos nas redes públicas. “Embora não chegue nada oficialmente, a gente sabe o que acontece de falta de matéria-prima no mercado, problemas de importação, e tudo isso acaba influenciando”.

A escassez de medicamentos como paracetamol e dipirona afeta a qualidade do atendimento e causa longas esperas para pacientes, enquanto profissionais de saúde trabalham em condições precárias. Souza especificou quais remédios estão em falta há um longo período. "O complexo B está em falta há muito tempo. A sinvastatina, para o colesterol, dipirona e metformina 500 (para diabetes), são alguns dos medicamentos que faltam com grande frequência”.

Quando há medicamentos em falta, os farmacêuticos orientam a população a pegá-los na farmácia popular, programa do Governo Federal, presente em estabelecimentos comerciais da cidade. Souza explica que em outras situações, os farmacêuticos sugerem a troca por outro medicamento semelhante. “Às vezes, o usuário não tem condição de comprar, a gente orienta para trocar por um medicamento que talvez não seja tão bom quanto o prescrito, mas que vai ter uma contenção de danos, pode ter pelo menos um efeito paliativo”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Enfermagem de Campo Grande (SINTE/PMCG), Ângelo Macedo, afirma que a falta de insumos e as condições inadequadas de trabalho afetam o atendimento nas áreas de urgência e emergência, além da falta de distribuição de recursos adequados. “Recursos que deveriam ser aplicados para que nós tenhamos melhores condições de trabalho, mais leitos, mais aparelhos que possam resolver muitas das situações”.

Segundo Macedo, a falta de materiais básicos, como Abocath 24, cateter utilizado para acesso venoso seguro para terapia em crianças, comprometem o tratamento. “Estamos há meses sem esse item, o que dificulta o atendimento, especialmente em situações críticas”.

A população tem sentido a precarização dos serviços de saúde. O motorista de aplicativo Jorge Soares dos Santos já passou por dificuldades que vão desde atendimentos tardios a remédios em falta. “Já esperei até 40 minutos além do horário para me atenderem, não tinha dipirona nem paracetamol para pegar na farmácia”.

A dona de casa Maria Aparecida dos Santos passou pelo mesmo problema com seus medicamentos para a menopausa. “Eu uso com frequência, e não são fornecidos pelo SUS, o preço é mais caro”. A ausência de médicos em áreas especializadas, como clínica geral, urologia, pediatria e ginecologia também é uma realidade nos hospitais.

O sindicato tenta solucionar o problema e faz solicitações para o Ministério Público quando necessário para garantir que as exigências da população e trabalhadores da área da saúde sejam atendidas. De acordo com Macedo, as unidades de saúde de atenção básica encaminham com frequência casos para a urgência, que atualmente enfrenta dificuldades para atender a demanda. “As unidades de Atenção básica têm limitações na capacidade de resolução desses problemas, que geram encaminhamentos para a urgência”.

A escassez de medicamentos foi tema discutido na Câmara Municipal para tratar sobre a falta constante de medicamentos. As propostas incluíram a auditoria das compras e a reabertura da farmácia da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Universitário. Segundo Ângelo Macedo, entre as duas ramificações do sistema público de saúde, atenção básica e urgência/emergência, a falta de insumos e as condições de trabalho dos profissionais são os problemas de maior urgência nas unidades de saúde. “Recursos que deveriam ser aplicados para que nós tenhamos melhores condições de trabalho, mais leitos, mais aparelhos que possam resolver muitas das situações são encaminhados para um nível secundário”.


Equipamentos e estruturas precarizados - Foto Andrella Okata
Equipamentos e estruturas precarizados - Foto Andrella Okata

Os pacientes que frequentam as unidades de saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e fazem uso contínuo de medicamentos, como por exemplo para a pressão arterial, coração etc., procuram alternativas para obter os remédios necessários. De acordo com Thiago Souza, os profissionais são orientados a aconselhar os pacientes para obter os medicamentos. “A gente sempre orienta a adquirir os remédios de outras maneiras como o programa Farmácia Popular, que consegue pegar muito medicamento de uso contínuo de forma gratuita”.

Em busca de resolver a falta de recursos, o sindicato atua de duas formas, o diálogo político e, quando necessário, a via jurídica. Segundo Macedo, a burocracia por vezes impede a chegada dos insumos. “A burocracia faz com que faltem insumos na ponta”.

A ausência de medicamentos e materiais apropriados têm afetado o atendimento de pacientes em estados graves. Campo Grande conta com mais de 100 unidades de atenção básica. Para Ângelo Macedo, muitas delas enfrentam uma capacidade de resolução limitada ou quase nula. “Tudo acaba encaminhado para urgência, que está sucateada, sem leitos e sem condições de atender a demanda”.

A escassez de insumos e medicamentos também tem afetado alguns hospitais particulares. Médicos da Santa Casa denunciaram no dia 25 de março as condições de trabalho precárias, insumos para cirurgias e superlotação. A crise financeira da Santa Casa foi exposta pela instituição ainda em março, quando relatou um déficit mensal de R$13,2 milhões. Dados de 2024 indicam que o hospital teve um faturamento de R$383,5 milhões, mas seus custos chegaram a R$542,4 milhões, refletindo um desequilíbrio financeiro praticamente equivalente aos repasses recebidos da Prefeitura e do Governo.


Gerente de enfermagem Maressa Aragão  - Foto Andrella Okata
Gerente de enfermagem Maressa Aragão  - Foto Andrella Okata

A Santa Casa é referência em atendimentos de Acidente Vascular Cerebral - AVC, traumas e traumas cirúrgicos. De acordo com a Gerente de Enfermagem da Santa Casa, Maressa Aragão, o hospital recebe pacientes além das áreas de referências, o que ocasiona superlotação. “A gente sempre tenta algumas vezes até transferir alguns pacientes, porque o nosso perfil do nosso hospital não é um hospital de referência clínica. A gente está num ambiente improvisado e isso traz um descontentamento, desconforto para a equipe, para os pacientes, para os acompanhantes que estão com eles”.



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