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Ameaça de tarifas por Donald Trump pode afetar mercado de exportações e importações de Mato Grosso do Sul

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Segundo economistas, o mercado internacional está sendo atualmente afetado pela oscilação cambial, aumento da taxa de juros e inflação, além da política internacional pelos chefes de estado


O Textão publica uma série de reportagens sobre o impacto dessas medidas no Brasil e principalmente no Mato Grosso do Sul

Rafaela Palieraqui

Na Casa Branca, em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas de importação de 25% para produtos vindos do México e Canadá, e 10% para produtos da China, medidas que, segundo ele, visam combater ameaças relacionadas à imigração ilegal e ao tráfico de drogas. Essa decisão, assinada no início de fevereiro, abalou o mercado internacional, criando incertezas em diversos países parceiros. A oscilação das principais moedas que movem a economia, a inflação global e o aumento da taxa de juros tendem a afetar, a longo prazo, a importação e exportação de insumos para o Brasil.

Em meio a esse cenário, estados brasileiros, como Mato Grosso do Sul, começam a sentir os efeitos indiretos nos setores agrícola e industrial. Conhecido como "Ilha da Prosperidade", o estado exporta soja, proteína bovina, minérios, celulose, açúcar, entre outros produtos.

Segundo o economista Michel Martines, existem duas óticas no atual cenário político-econômico. A primeira é que as tarifas causaram um efeito negativo nos países, fazendo com que o dólar também sofresse esse efeito.

“Dentro do Brasil, observamos que, quando o dólar é depreciado em relação ao Real, há aspectos mais negativos para quem exporta, porque a pessoa receberá uma quantidade menor da moeda”, explicou Martines.

Já no outro lado da mesma moeda, a redução do preço do dólar pode ser vantajosa para combustíveis e importadores. “Algumas importações que trazemos de fora, como, por exemplo, a Argentina - que importa bastante trigo - são feitas em dólares, e isso pode ter um efeito positivo para nós”, afirma.

Variação do dólar em relação ao real

Em 2024, a moeda americana registrou a mínima de R$4,89 e a máxima de R$6,19. Essa variação impacta os setores agrícola, industrial e as finanças públicas. O economista Hudson Garcia, membro do Conselho Regional de Economia do Estado de Mato Grosso do Sul (Corecon), explica que a desvalorização do real frente ao dólar torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, podendo aumentar a receita dos exportadores locais.

Por outro lado, a apreciação do real reduz a competitividade dos produtos sul-mato-grossenses no exterior, impactando negativamente as receitas dos setores agrícola e industrial.

Em relação às finanças públicas do estado, estudos indicam que a dívida externa dos estados brasileiros está sujeita a oscilações cambiais. Quando o Real é desvalorizado, o valor do débito aumenta, pressionando o orçamento estadual.

Entretanto, esse efeito pode ser parcialmente compensado pelo uso do "pass-through", que aumenta a arrecadação de impostos decorrente da inflação gerada pela desvalorização cambial.

“Em 2017, o serviço da dívida externa de Mato Grosso do Sul correspondia a 0,25% da receita bruta com impostos e transferências, indicando uma exposição relativamente baixa ao risco cambial”, cita Garcia.

Outro impacto negativo seria na viabilidade de projetos e investimentos no estado. Iniciativas que envolvem financiamento externo ou importação de equipamentos podem sofrer alterações nos custos devido às oscilações cambiais.

“O governo estadual tem participado de discussões sobre fundos climáticos e linhas de financiamento que consideram a variação cambial em suas estruturas, buscando mitigar possíveis impactos negativos”, afirma o economista.

Em outros países do mundo

Fugindo do Ocidente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil há quase duas décadas. O país asiático importa insumos do agronegócio, como carne e soja, enquanto o Brasil depende de sua tecnologia avançada. Só em 2024, a relação entre ambos fez a China alcançar RMB 1,14 trilhão (US$ 156 bilhões), um crescimento de 9,9%.

Na Europa, o cenário de guerra entre a Rússia e a Ucrânia está afetando negativamente as importações de Mato Grosso do Sul. O estado depende de máquinas, equipamentos e produtos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, que sofreram alta devido ao cenário de destruição.

Além de questões políticas, a saúde também é um dos pilares que pode influenciar o comércio estadual. Michel Martines argumenta que os cuidados com o saneamento animal e suas doenças podem afetar negativamente os valores.

“Quando há focos de febre aftosa, por exemplo, enfrentamos problemas relacionados à importação desses países, pois eles acabam bloqueando a importação. Isso é uma prática comum da União Europeia. Portanto, cada país tem sua importância geopolítica e o impacto econômico que gera no Brasil, especialmente em Mato Grosso do Sul, um grande exportador”, finaliza o economista.

Inflação e taxa de juros

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida no dia 4 de fevereiro, a taxa Selic sofreu um aumento de 1 ponto percentual, totalizando 13,25%.

De acordo com o Banco Central do Brasil (BC), a taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, que influencia as taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Além disso, o BC utiliza a taxa para realizar operações no mercado de títulos públicos.

Conforme Hudson Garcia, uma taxa de juros menor é atraente para investidores no setor produtivo e faz com que migrem seus investimentos para outros países. Além disso, uma inflação menor em outro país faz com que a moeda tenha maior poder aquisitivo.

As expectativas da pesquisa Focus, citada pelo Banco Central, para os anos de 2025 e 2026, foram elevadas entre 5,5% e 4,2%. Para o terceiro semestre de 2026, a projeção é de 4,0%.

Impactos na vida cotidiana

Entre janeiro e fevereiro de 2025, o dólar acumulou uma baixa de 6,24%. A moeda americana quase alcançou 14 sessões consecutivas de queda, desde 2005, e ficou abaixo de R$5,80 no dia 4 de fevereiro.

Apesar da redução no valor das cotações, tanto a alta quanto a queda do câmbio demoram de 30 a 45 dias para serem incorporadas aos preços. Já a taxa de juros leva de três a quatro meses para influenciar o mercado.

Conforme Eugênio Pavão, economista da Universidade de Mato Grosso do Sul e mestre em Economia Industrial pela Universidade Federal de Santa Catarina, a extinção da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) fez com que as altas de preços fossem instantâneas no passado, mas, com o fim do tributo, os preços não se ajustaram mais e os custos se transformaram em lucros para as empresas.

Em relação à sociedade, a variação de preços afeta quando ocorre um processo de alta sistematizada e constante de preços (inflação). “Em 2024, tivemos uma inflação de 4,75%, e para 2025, a expectativa é de uma alta de 5,2% (mínimo). A alta do dólar afeta os preços no Brasil, assim como as intempéries que impactam a produção. As altas taxas de juros também farão com que o consumo diminua”, prevê o economista.

Na visão de Hudson Garcia, o estado pode adotar estratégias para minimizar o impacto negativo para a população.

“Pode-se adotar o ‘hedge cambial’, diversificação de mercados, gestão da dívida pública e financeira, criação de fundos de estabilização, incentivo à industrialização local e investimentos em infraestrutura logística e agricultura de baixo custo”, cita o economista.



 
 
 

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